Não foi nenhum dos contos deste livro que me capturou para a literatura borgeana, mas um outro em algum outro livro do qual não me recordo o título. Esse conto conta a história de um garoto branco, gaúcho, raptado por indígenas e criado como tal. Um dia, ele retorna ao antigo povoado em que nasceu para, junto de seus companheiros de armas, saquear e barbarizar o lugar. De repente, lembra-se de uma pequena faca que escondera num local qualquer quando ainda era uma criança branca. Fulminado pela lembrança, dá um tremendo urro. O conto acaba aí, lançando uma interrogação sobre o tempo, a identidade e a memória.
Desde então Jorge Luis Borges me atormenta com seus paradoxos, sua erudição e seu senso de realidade que nada prova, mas que torna a ficção mais provável que inúmeros fatos históricos. Ficções tem esse mérito: por exemplo, conter um personagem como Funes, o memorioso, mais real que muitas teorias sobre a memória – das quais algumas derivam justamente desta ficção

Rogério Ivano, UEL, Londrina.

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