O corpo sofreu e, ainda, sofre as interdições de ordem moral. Sade mergulhou nos mistérios do corpo, tomando-o como campo de exploração, veículo produtor de conhecimento e, através das palavras, ele nos deleita e apresenta as inúmeras possibilidades que tal campo oferece, trazendo ao leitor um universo único e ao mesmo tempo plural, onde o desprender-se do vício do julgamento e o estranhamento perante a generosidade da vida – amarras morais, cerceadoras da liberdade – são essenciais para a reflexão da imanência sadeana.
Sade conduz para a união de dualidades – corpo/mente, essência/aparência, teoria e prática. Formula, por meio de suas obras, o conhecimento carnal produzido na alcova. Derruba paradigmas maniqueístas, unindo filosofia e corpo. Utilizando-se da linguagem escrita, expõe sua forma e seu conteúdo, maneira de expressão, instrumento que possibilita o relacionar-se com o mundo. Porém, a linguagem não alcança o corpo, feito de carne e instintos. Sade ao descobrir o corpo não "devolveu seu cobertor", nos abrindo para a liberdade, nus e crus para nos expressarmos um no outro. Dito isso, o que faremos transborda: unir a linguagem a diversos tipos de carnes.
Linguagem visual, filmografia, fotografia em busca desta união. O fotógrafo francês Donatien escutou isso numa mesa de bar da cidade. Lembrou-se de seu ilustre conterrâneo e armou sua máquina fotográfica. Registrou corpos, palavras, ou inversamente. Um dia, foi embora, para a sua ou outra terra, ou carne.
Cada corpo é único e abundante, é um "universo", contêm infindáveis, inimagináveis possibilidades, assim como cada palavra carrega inúmeras significações e sentidos. Convidamos o público a se deleitar no entrelaçar destes mundos. Só pedimos para que esta cópula não se restrinja somente ao espaço da exposição, mas, que ela seja levada, pelo espectador, para suas alcovas mais íntimas.